sexta-feira, 21 de setembro de 2007

sonhos II



Pois bem, finalmente decifrei o sonho da mulher morta. Surpresa! Sim, em que pesem todas as situações e conexões que se faz sozinha. Recebi ajuda, pontual, da amiga-terapeuta D. Margarete, como sempre, disposta e entender e ajudar. E eis que a mulher morta não era eu... assim compreendi. Eu resto viva e no momento do sonho já o estava. A morta era outra, o cemitério era outro, o jazigo-casa, outro. E o cuidador optou por cuidar dos mortos e mortas da família. Eis a minha surpresa. Não sei por que, mas são poucos os que conseguem fugir do legado imposto pela família. Há que ser muito forte. Não é o caso. E parei de lamentar, afinal eu era/sou o bicho estranho, não cabia naquele povo-cemitério, me violentava ao entrar lá. Hoje sei, antes não, e o sonho me ajudou. Diz Jung que o sonho é porta do lado obscuro, o pórtico, o portão. Como na foto que escolhi na primeira postagem, sem saber. Há que se ter algum cuidado com o que se entrevê pelo portão, porque dele emergem a ânima e a sombra, arquétipos crepusculares. E um ser possuído pela sombra está postado em sua própria luz, caindo em suas próprias armadilhas. Deus me livre...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Pois

E Wangmo disse, tom solene: aqui ó, corta, tem que cortar isso, você tem que agir; essa carta é de ação. Tá. E daí? Como cortar? Qual é, afinal a ação pra promover esse corte, essa supressão de sentimentos de dentro da gente? Ela diria, meditação, mudar o padrão. Mas eu que não sou da lida, faço o quê? Extirpar. Difícil. Ou talvez, como Jack, por partes. Melhor. Então vamos lá. Ação! Luzes, câmera: outro conselho, não se encolha. Ursinho. Acho que não estou nem um pouco encolhida, se bem que muito me policio e tento. Acontece que não caibo mais na caixa. Aí danou. Ei! hora de sair da crisálida. Será??!!

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

E Clara disse

finalmente aconteceu:
parei de te carregar comigo para onde quer que fosse.
o tempo cura, diziam, vai passar.
eu apertava os dentes e segurava os olhos.
eu pensava "ninguém entende", eu pensava que entendia.
às vezes os outros sabem das coisas.
hoje passei por aquela praça, aquela praça que me arrastava no chão toda vez que eu via porque foi lá que dei um dos piores adeus dessa vida, você dizendo "eu vou voltar" e eu acreditando, como é que eu acreditei?
eu chegando em casa sozinha, sabendo que você estava entrando naquele maldito avião, eu chorando dias e dias no travesseiro ainda com seu cheiro, dormindo com a sua camiseta, me agarrando à memórias que achava serem o começo.
era apenas um fim.
a imagem de você correndo embora, você correndo atrasado porque passou todos os últimos momentos comigo, aquilo me acabava, me atormentava, não me deixava.
achei que não ia me deixar.
mas seu cheiro foi saindo do travesseiro, da camiseta, você foi aos poucos se apagando, nossas conversas foram perdendo o sentido, se é que algum dia tiveram algum.
agora eu sei:
você nunca entendeu.
e você se foi.
se foi deste chão e agora de mim, sem que eu me desse conta até hoje, quando passei pela praça e pensei "que se dane".
guardo aqui muitas memórias lindas, aquele hotel, aquele show, aquelas brigas, aqueles dias castos com as cortinas fechadas e a minha expectativa por te ver com aquele sorriso de novo.
mas você entrou no avião e agora, meses depois, partiu de mim também.
que alívio.
puxa, que alívio.
era só um amorzinho.
e eu que tentei revirar o mundo.
é que eu sabia que amorzinho pode virar amor,mas acho que você não sabia.
que pena, darling.
really, que pena.

Clara Averbuck disse. Eu assino.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Hiii

Acho que a moça baixou foi nesse corpo mesmo... Preciso, mais que nunca, meditar e exercitar a paciência...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Que coisa

tem uma coisa que acontece comigo.
tem uma coisa que acontece comigo que eu não sei explicar senão assim:
não fui eu, foi ela.
não era eu, era ela.
às vezes ela fica muito tempo sem aparecer.
e eu me comporto.
de repente, quando eu acho que está tudo sob controle,vem a filha da puta com tudo e acaba
com a minha vida.
faz umas coisas que eu não faria
diz umas coisas que eu não diria
e usa o meu corpo para tudo isso.
usa a porra do meu corpo, o MEU corpo, se apresenta com essa cara aí e o meu nome.
e depois, como eu explico?
não explico.
porque ninguém nunca vai entender.
nem eu, pra falar a verdade.
mas eu gostaria que essa moça
fosse baixar no corpo de outra.

Clarah Averbuck

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Pistas


Ah, as auto-indagações... Uma certeza agora tenho, revendo "quem sou eu?". Sou professora. Realmente sou professora. Adoro estar em sala de aula! Adoro as relações e as conexões que são estabelecidas nesse ambiente (vale dizer que como professora de artes, o termo "sala de aula" é bem ampliado, pode ser o pátio, a rua, uma loja, museu, etc.). Estar com pessoas em uma situação formal de aprendizado é realmente fantástico. Desde sempre fui empolgada com escola, com conhecimento (na minha família, a única forma de ascender socialmente era, e ainda é, estudar). Digo pros meus: pra me fazer feliz, basta me colocar em um banco de escola. Pois agora, quer me ver feliz, veja-me diante de uma turma, facilitando seu processo de conhecer. Ali se estabelecem as relações e as situações mais incríveis. Por exemplo, encontrar como aluna da pós-graduação uma ex-colega de ensino médio, e nos reconhecermos mutuamente, dando um abraço atrasado 15 anos. Isso sem falar na surpresa diária que é dar aulas p/adolescentes (Adoooro!!). O ambiente acadêmico também é bastante surpreendente. Sempre imaginei pessoas inteligentes pedantes ou com pose de importante. Qual nada, as pessoas realmente com conteúdo não são enfadonhas, se divertem, contam piadas e citam Sartre, Borges e o Analista de Bagé com o mesmo humor e propriedade. Bom, não me furto às questões narcísicas de estar diante da platéia e ser a pseudo-detentora do saber. Como diria meu compadre, pra quem precisa de massagem no ego, é melhor que ser ator. Isso pretendo superar, talvez pensando numa aula freireana, numa oficina, onde todos são responsáveis pelo auto-conhecimento, incluindo o facilitador. É... sou professora e gosto. Eis uma pista. Estou no caminho.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

sonhos


Sonhei com uma mulher morta... Perguntaram-me: quem era ela? Acho que eu mesma. Segui com aquela imagem do sonho por dias. Uma mulher morta sobre uma laje, dentro de um jazigo, um cemitério, à noite. Um corpo velho embalsamado, sendo cuidada, limpa. Eu olhando. O cuidador e a mulher morta. Espanto. Como ele estava se portando assim? Cuidando de um cadáver? Asco.

E aí? O que significa? O que é a morte pra mim? Estou morta ou viva? Quem vive? Quem morreu? A morte... arcano. A morta... era eu? Morrer, renascer e morrer de novo e por vezes renascer.

Não sei, só sei que sonhei com uma mulher morta.