sexta-feira, 7 de setembro de 2007

E Clara disse

finalmente aconteceu:
parei de te carregar comigo para onde quer que fosse.
o tempo cura, diziam, vai passar.
eu apertava os dentes e segurava os olhos.
eu pensava "ninguém entende", eu pensava que entendia.
às vezes os outros sabem das coisas.
hoje passei por aquela praça, aquela praça que me arrastava no chão toda vez que eu via porque foi lá que dei um dos piores adeus dessa vida, você dizendo "eu vou voltar" e eu acreditando, como é que eu acreditei?
eu chegando em casa sozinha, sabendo que você estava entrando naquele maldito avião, eu chorando dias e dias no travesseiro ainda com seu cheiro, dormindo com a sua camiseta, me agarrando à memórias que achava serem o começo.
era apenas um fim.
a imagem de você correndo embora, você correndo atrasado porque passou todos os últimos momentos comigo, aquilo me acabava, me atormentava, não me deixava.
achei que não ia me deixar.
mas seu cheiro foi saindo do travesseiro, da camiseta, você foi aos poucos se apagando, nossas conversas foram perdendo o sentido, se é que algum dia tiveram algum.
agora eu sei:
você nunca entendeu.
e você se foi.
se foi deste chão e agora de mim, sem que eu me desse conta até hoje, quando passei pela praça e pensei "que se dane".
guardo aqui muitas memórias lindas, aquele hotel, aquele show, aquelas brigas, aqueles dias castos com as cortinas fechadas e a minha expectativa por te ver com aquele sorriso de novo.
mas você entrou no avião e agora, meses depois, partiu de mim também.
que alívio.
puxa, que alívio.
era só um amorzinho.
e eu que tentei revirar o mundo.
é que eu sabia que amorzinho pode virar amor,mas acho que você não sabia.
que pena, darling.
really, que pena.

Clara Averbuck disse. Eu assino.

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