quinta-feira, 29 de março de 2007

ainda a crisálida

Parece uma coisa, quero sair, me libertar, já quase consigo, mas algo acontece, às vezes é um nada, às vezes deveria ser. Mas retorno, recolho as asas. É, talvez não estivessem bem prontas, talvez as cores, a vitalidade, a força, ainda não atuassem na sua totalidade. Ou o medo me fez recuar. Acredito que a seu tempo eu me lanço ao espaço, como uma asa delta, sempre quis, confesso. Por enquanto não deu. Não me culpo, ou me culpo? Já era tempo, penso, ainda é cedo, dizem.
A crisálida é confortável, lugar de descobertas. A minha é escritório inglês do século passado, com mobiliário de madeira nobre e escura, lareira, poltronas de pés curvos e tecido nobre em capitonê, chá fumegante na mesa imponente, janelas abertas pra um jardim bem cuidado, cortinas florais e livros em uma estante protegida por vidros, um cachimbo (sei lá, Freud explica) e cheiros, muitos, delicados, não perfumes, apenas cheiros. Daqui olho o mundo, daqui experiencio e me experiencio. Daqui aguardo. Observo...

domingo, 18 de março de 2007

Hoje vi uma reportagem na televisão sobre as borboletas... Disseram que borboleta é todo o conjunto da vida do inseto, desde a larva (aquela lagarta que povoava meus piores pesadelos da infância) até restar belíssima e esvoaçante. Nós chamamos de borboleta o que na verdade é o estágio final de todo um processo, mas a borboleta é, desde a larva.
Então, posso crer que esse processo de estar contida, meio larva, meio sei-lá-o-que, no bardo, como diria a Vanessa, já me faz borboleta. Ela já está contida em mim, já é, como diriam meus alunos.
Resta saber porque não me sinto como tal, porque não posso simplesmente esperar que surjam as asas e os vôos de liberdade e felicidade. Será que a larva já se sente borboleta, ou será que ela também se surpreenderá quando surgirem as cores, a beleza, a possibilidade de vôo?
A borboleta é símbolo de transformação, mas e a crisálida? O que simboliza? O luto, a dor, a indefinição? Ou a possibilidade de transformação, de crescimento? E antes da crisálida? Quem eu era? A larva? Arrastando-me e soltando espinhos e venenos?
E em que espécie de borboleta me transformarei? Com que cores, que atributos?
Penso que a crisálida representa esse estágio de dúvidas, de recolhimento.
Por enquanto, é um lugar aconchegante pra mim. Por enquanto, a borboleta me assusta. Mas ela já é... então, não há como fugir. Aguardo.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Metamorfose/transição

Transição, essa é a palavra...
Segundo ainda as definições de Chevalier e Gheerbrant, mais do que um envelope protetor, a crisálida representa um estado eminentemente transitório entre duas etapas do devenir, a duração de uma maturação. Implica a renúncia a um certo passado e a aceitação de um novo estado, condição de realização.
Frágil e misteriosa, como uma juventude cheia de promessas, a crisálida inspira respeito, cuidados e proteção. Ela é o futuro imprevisível que se forma. Na biologia, é símbolo da emergência.
A pergunta é, por que fazer um blog? Por que expor essa minha condição de crisálida?
Nesse momento, não saberia dizer... Talvez porque tenha pedido aos meus alunos que criassem um ambiente virtual de onde seriam avaliados, talvez por uma necessidade narcísica de expor meu umbigo, talvez porque queira forçar a Ju a escrever comigo, talvez porque tenha uma necessidade autonegada de escrever, talvez e talvez... (perhaps que põe medo).
O fato é que realmente não sei... mas cedi ao impulso e cá estou, compartilhando a crisálida e esperando dela surgir um ser, que ser, que mulher, que mãe, que amante, que Lilian?
Talvez tantos questionamentos só venham a ser satisfeitos assim que a crisálida se romper.
Por enquanto, fico por aqui e compartilho com quem quiser.

domingo, 4 de março de 2007