quarta-feira, 18 de abril de 2007

lagarta

Já que não consigo romper a crisálida, ainda que sem consciência, tenho retomado as questões anteriores. Melhor entendido, não me sei borboleta, portanto sou compelida a refletir sobre a lagarta. E aí? Exercício sobre a sombra, no verdadeiro sentido junguiano: a Sombra, que mete medo, pedaços incompreendidos e negados de nós mesmos. Pois bem, metáfora de um animal que jamais eu seria... nenhum vem à cabeça. Vazio. De repente brota ela, horrenda, nauseante: a lagarta, aquela que a gente criança chamava de bicho cabeludo e que amendrontava meus piores pesadelos. Suas características? repulsiva, feia, nojenta, amedrontadora. Essa seria a sombra, aquilo que não quero mais, a negação, o "não sou" que me constitui. E agora? é dessa lagarta que quero me liberar, que espero a transformação, num vôo delicado de frágil e bela borboleta? A quem eu metia medo, dava nojo? Quem me lia pela sombra? Ou ainda me lê? Por que passava essa imagem? A minha lagarta já não tinha os pêlos, já não agredia tanto, mas enojava, era lerda, dependente. O que eu considero a pior coisa num ser, a lerdeza, a imobilidade, a dependência. Isso também eu sou. A solução? Aceitação dessas "qualidades", compreensão, conexão, nunca a exclusão, a negação, isso poderia gerar um ataque da sombra (como acontece em muitos casos, vide massacre na universidade da Virgínia). Bem, rendo-me a Jung e sigo crendo nos seus arquétipos, principalmente daqueles que falam da transformação. Por enquanto, aceito a lagarta, mas ainda não sou borboleta.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

espiada

Dei uma espiada para fora da crisálida. Foi incrível. Olhar pra fora, sabendo que estava protegida pela película. Foi uma experiência nova, assustadoramente nova. Aula de teatro, criação de personagem, até aí tudo bem. Afinal foi uma das formas que, creio, pode me levar pra fora. Mas o desafio estava por vir, o personagem tinha que sair na rua, interagir. E aí? Uma louca cheia de carências e negações, viciada em remédios, que eu tinha criado e que emprestava a vida. E eu que me acreditava tímida e incapaz de erguer os olhos em algumas situações, fiz, dei um corpo à Dalva, louca. E agora, que sei que sou capaz? Que medo, credo. Agora não sei mais quem sou, não sou tímida, sou capaz de coisas que não sabia que era. Meu Deus, quem ousa desafiar uma mulher dessas? Eu que não...