segunda-feira, 11 de junho de 2007

ainda a crisálida

Cansativo? Acho que não, pelo menos pra mim e por enquanto. Refleti sobre a crisálida, o casulo, a casa, depois de aula com meus alunos da graduação. Falávamos de Bachelard e a metáfora dos espaços habitados. A casa. Para Bachelard a memória se refugia nos espaços, se abriga neles. Assim, lembramos de muitos fatos de nosso passado a partir de onde estávamos e o ambiente mais vivido era a casa. Após atividade de retorno imaginativo à casa da infância, muitos acessaram memórias, medos, alegrias, saudades, seres. Um experiência única para eles e para mim também. Sempre que proponho uma atividade em um grupo, fica reverberando em mim, por algum tempo. Bachelard também fala que a casa é nosso abrigo supremo, pois abriga o sono, no qual estamos mais vulneráveis, e os sonhos. A casa é onírica, abriga o devaneio, abriga o sonhador. Casa... Pensei nisso por um tempo e me vi "enfeitando nosso barraco" (como diria Ana Carolina) em um passado recente. Enfeitava e tentava aquecer, ah quanto frio passado lá dentro! Até usei o vermelho para torná-la mais afetiva, mas era o que era, uma casa fria, sem afeto, sem calor, como era a vida então. Mas eu a amava e amava aquela vida sem-sentir. É fato, não havia um sentir pleno, quente. E ainda passei um tempo, tentando permanecer naquele casulo, frio, mas conhecido; sofrido, mas onde eu me movimentava de olhos fechados. Hoje, novo casulo, meu, meio precário, mas humano, cheio de sentidos e quente... se aquece com pouca energia e se mantém aquecido. Metáfora? Não sei, talvez mera constatação. O que sei é que gastava muita energia em um ambiente que não tinha condições de se aquecer, inaquecível, se me perdoam a palavra.
Porém, na minha crisálida nova, tenho algumas restrições: aqui só recebo quem eu quero. Não adianta vir à porta e se esgueirar, além disso, não há nada a ser visto aqui dentro, além de uma mulher tentando se encontrar e manter um ambiente de afeto para sua pequena família. Culpados ou inocentes, adentrar no meu recanto onírico, só com minha vontade. Quem sabe um dia? Mas agora, não.

3 comentários:

padma wangmo- disse...

Mas façamos um comentário bem apropriado: as vezes não estamos em casa e um não convidado ousa, bem macho, cheio de coragem, tarzam,animal, ver, afinal, que aquecedor novo é esse que ela tá usando?

jupoesia disse...

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando... "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Clarice Lispector

Achei que eu deveria dizer que somos estranhamente loucas, como a Dona Lispector, mas que nem sempre acreditamos que temos tanta força e tanto poder com as palavras. E a outra coisa é que aquecer a vida não é cargo fácil. No entanto, energia a gente tem, a gente busca... E as palavras, pelo menos, servem pra aquecer a alma. Bju, amiga.

jupoesia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.